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sexta-feira, novembro 08, 2013

A NATUREZA RELIGIOSA

Filosofia/Reflexão
Ainda que incompreendido por alguns Nietzsche não poupava palavras contra o sistema político e religioso por manipular seus seguidores, que escravizava o povo em nome da religião e ainda por cima exercia o poder absoluto sobre os mais fracos e ignorantes por falta de conhecimento do que realmente a religião poderia oferecer.

Nietzsche
O filósofo tal como nós o entendemos, nós, espíritos livres – como o homem da responsabilidade mais ampla, que se preocupa com a evolução total do homem: esse filósofo se utilizará das religiões para a sua obra de educação e cultivo, do mesmo modo que se utilizará das condições políticas e econômicas do momento. A influência cultivadora, seletiva, isto é, tanto destrutiva quanto criadora e modeladora, que se pode exercer com ajuda das religiões, é sempre múltipla e diversa, conforme o tipo de homens colocados sob seu domínio e proteção. Para os fortes, independentes, preparados e predestinados ao comando, nos quais se encarnam a razão e a arte de uma raça dominante, a religião é mais um meio de vencer resistências e dominar: é um lasco que une dominadores e súditos, e que denuncia e entrega àqueles a consciência destes, o que neles é mais íntimo e oculto, que bem gostaria de se subtrair à obediência; e se algumas naturezas de origem nobre se inclinarem, por uma elevada espiritualidade, a uma vida mais afastada e contemplativa, guardando para si apenas a mais refinada espécie de domínio (sobre discípulos eleitos ou irmãos de ordem), a religião pode ser usada inclusive como meio de obter paz frente ao barulho e á fadiga de modos mais grosseiros de governo, e limpeza frente á necessária sujeira de toda política.  Assim fizeram os brâmanes, por exemplo: através de uma organização religiosa atribuíram-se o poder de nomear reis para o povo, mantendo-se e sentindo-se fora e á margem, como indivíduos de tarefas superiores e supra-reais. Entretanto a religião também fornece, a uma parte de dominados, orientação e oportunidade de prepara-se para dominar e comandar algum dia: àquelas classes e camadas que sobem lentamente, nas quais não param de crescer, mediante felizes costumes matrimoniais, a força e o prazer da vontade, a vontade de autodomínio – a elas a religião oferece estímulos e tentações suficientes para percorrer o caminho da espiritualidade superior, para colocar á prova os sentimentos da grande superação de si mesmo, do silêncio e da solidão – ascetismo e puritanismo são meios de educação e enobrecimento quase indispensáveis quando uma raça pretende triunfar de sua origem plebéia e ascender ao domínio futuro. Aos homens ordinários, enfim, o grande número que existe para o serviço e para utilidade geral, e que apenas assim tem direito de existir, a esses a religião proporciona uma inestimável satisfação com seu estado e seu modo de ser, uma reiterada paz do coração, um enobrecimento da obediência, mais alegria e mais dor em comum com seus iguais, e alguma transfiguração e embelezamento, alguma justificação de toda cotidianidade, de toda a baixeza, toda a pobreza semi-animal da sua alma. A religião e a significação religiosa da vida lançam um raio de sol a essas criaturas atormentadas e lhes tornam suportável inclusive a própria visão, tem o efeito que uma filosofia epicurista costuma ter em sofredores de uma categoria mais elevada, aliviando, refinando, como que se aproveitando do sofrimento, chegando inclusive a santificá-lo e justificá-lo. Talvez não haja, no cristianismo e no budismo, nada tão digno de respeito como a sua arte de ensinar mesmo os mais humildes a se colocar, pela devoção, numa ilusória ordem superior de coisas, mantendo assim o contentamento com a ordem real, no interior da qual vivem tão duramente – dureza essa que é tão necessária.



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